Positivo, mas sem muitos motivos para comemorações. É dessa forma que analistas enxergam a alta de 1,3% no desempenho da economia brasileira em maio, segundo o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), divulgado na manhã desta terça-feira, 14. O número é considerado pelo mercado financeiro uma “prévia” do Produto Interno Bruto (PIB). Para os especialistas, a recuperação ante a queda histórica de 9,45% no mês de abril – o pior resultado desde o início da série histórica, em 2003 – mostra que o pior da crise causada pelo novo coronavírus foi superado, mas que a retomada do crescimento pode levar mais tempo do que o esperado, e que as reformas debatidas no pré-crise são essenciais para isso.
“É um número que nos traz um alívio, mas é frustrante. Apesar de ter deixado o pior para trás, os dados nos mostram que a recuperação é lenta”, afirma Marcela Rocha, economista-chefe da Claritas Investimentos. Ela esperava alta de 3,8%, impulsionada principalmente pela recuperação de índices do varejo e indústria. Para a economista, a retomada, mesmo que tímida, deve se manter nos próximos meses com a flexibilização das medidas de isolamento social e a retomada dos setores de comércio e serviços no país.
O arrefecimento das restrições para a circulação de pessoas também é apontado pelo professor de economia do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), Otto Nogami, como um dos principais pontos para a retomada. “Se tudo acontecer dentro da normalidade, vamos ter uma retomada gradativa da atividade produtiva, mas não em um padrão que estávamos esperando”, afirma ele. O especialista ressalta que a pandemia atingiu o Brasil em um momento que a economia já estava fragilizada, e que os impactos da crise evidenciaram a necessidade de mudanças. “O governo esteve ausente na condução do problema em um nível nacional. Cada governador e prefeito seguiu o seu próprio caminho. O primeiro passo para uma retomada deve ser a reorganização desse processo para sustentar o crescimento.”
Na contramão e mais otimista, Walter Franco, professor de economia do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) em São Paulo, afirma que o crescimento de 1,3% é satisfatório diante do cenário econômico mundial. “Temos potencial de crescimento em ‘V’. De uma forma exponencial, se mantivermos essa média de crescimento nos próximos meses, alcançaremos os níveis pré-crise até fevereiro do próximo ano”, afirma. A flexibilização das medias, segundo ele, irá potencializar esses dados, e apresentar uma constante no crescimento das atividades econômicas, principalmente a partir de julho.
Necessidade de reformas
Em comum, os analistas afirmam que a manutenção e consolidação do crescimento está diretamente ligado à agenda de reformas do Ministério da Economia, principalmente as reformas tributária e administrativa. “O mundo vai buscar mais segurança no fornecimento de bens e serviços. Se o Brasil souber se posicionar nessa nova realidade, ele será bem-sucedido”, afirma Franco, ressaltando a necessidade na diminuição da burocracia para atrair os investidores, tanto nacionais como estrangeiros.
Para Marcela, da Claritas Investimentos, o foco da equipe do ministro Paulo Guedes já deve ser em uma agenda pós-pandemia, mantendo medidas que foram tomadas para aliviar os impactos da crise, como a queda dos juros e o acesso ao crédito. “A discussão para a reforma tributária está bastante avançada na Câmara dos Deputados. O governo deve usar essa base de apoio no Congresso para retomar o debate.”
fonte: Jovem Pan, escrita por Gabriel Bosa
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