Economista Felipe Leroy explica que a alta no preço está relacionada ao câmbio e à quebra de safra da cana-de-açúcar
Com a quebra da safra de cana-de-açúcar no país, o etanol vai demorar a reconquistar a fama de combustível mais vantajoso para o consumidor. Mesmo com o preço mais alto, a gasolina continua rendendo mais em todos os Estados, segundo levantamento da ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) divulgado na quinta-feira (26). Em Belo Horizonte e região, o álcool pode ser encontrado a R$ 4,89 por litro, de acordo com pesquisa do site Mercado Mineiro feita entre 19 e 22 deste mês, o que representa um aumento de 42% em relação a janeiro.
A tendência é que o preço do etanol não abaixe, tendo em vista que a produção de cana foi derrubada pelas geadas intensas no país. A colheita, prevista em maio último em 628 milhões de toneladas, deverá ficar em 592 milhões na safra 2021/22, segundo estimativas divulgadas na semana passada pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).
"A pauta do aumento do combustível permanece, primeiro, por causa do câmbio. Com nossa moeda depreciada frente ao dólar, os derivados do petróleo chegam mais caros aqui. Outra coisa tem a ver com a quebra de safra devido ao aumento do período sem chuva e do frio acentuado. Essa quebra reduziu a oferta do principal insumo da produção de álcool, que é um substituto da gasolina e também compõe a gasolina", detalha o professor de economia do Ibmec-BH, Felipe Leroy.
Além dessas variáveis, o aumento da demanda por açúcar provocada pela retomada gradual das atividades que estavam suspensas na pandemia também pressiona o preço do etanol.
"Há uma tendência de estabilização, mas não de redução. O que aumentou fica. E nós temos um produtor que é maximizador de lucro. Se o preço do açúcar no mercado internacional estiver maior do que aqui ele vai exportar açúcar. Para quê ele vai vender álcool aqui se eu tenho um mercado de açúcar internacional pujante?", conclui.
Tentativa de economia.
Ao se deparar com o alto preço do álcool, o motorista recorre à gasolina, que está mais cara, mas tem melhor rendimento. Segundo levantamento do Mercado Mineiro, o litro da gasolina é encontrado a R$6,499 na região metropolitana de BH, 31% mais caro em relação a janeiro. Por possuir menor poder calorífico, o preço do etanol só é vantajoso quando corresponde a menos que 70% do valor da gasolina.
"O etanol requer uma taxa de compressão maior na câmara de explosão do cilindro. Então ele requer maior queima de combustível em relação à gasolina no mesmo tempo de explosão", explica o dono da Gama Auto e consultor da Unifort, Fernando Gama.
Fernando dá dicas para o motorista economizar na hora de dirigir. "Uma coisa que ninguém faz é calibrar pneu. É aconselhável calibrar a cada 15 dias. Filtro de ar também precisa ser conferido, assim como vela, cabo, bico. Outra coisa que deve receber atenção é a limpeza do ar-condicionado. E outra coisa é o aditivo. O carro não tendo aditivo ele aquece mais, arma a ventoinha mais frequentemente e eleva o consumo", diz.
Polêmica sobre a composição de preços.
O presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), responsabilizou os governadores pela alto no preço dos combustíveis. Na visão de Bolsonaro, o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), um tributo estadual, seria o vilão da composição do valor para o consumidor final.
O governador de Minas, Romeu Zema (Partido Novo), se posicionou sobre o tema em seu Twitter, nesta sexta-feira (27), devolvendo a bola para o governo federal. "O ICMS corresponde a percentual do valor cobrado nos postos, que tem sofrido reajustes constantes da Petrobras, controlada pelo governo Federal. Somente esse ano a Petrobras já subiu em mais de 50% os combustíveis no país", escreveu.
A Secretaria de Estado de Fazenda de Minas Gerais (SEF-MG) também se envolveu na discussão, corroborando a posição de Zema. A pasta publicou em sua página no Instagram uma nota afirmando que, em Minas, o ICMS do etanol e da gasolina não sofrem reajuste desde 2018, e o do diesel, desde 2012.
No mesmo dia, o presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), Agostinho Patrus (PV) defendeu que a redução do preço dos combustíveis depende, sim, da ação do governo estadual. "O custo final da gasolina em Minas Gerais depende da alíquota do ICMS, que é a 2ª maior do Brasil, e do PMPF, base de cálculo do imposto estadual, que é a 4ª maior no país. Com boa vontade, o Estado pode segurar o aumento do preço de referência do ICMS sobre os combustíveis, aliviando o custo final ao consumidor", disse o deputado no Twitter.
Fonte: https://www.otempo.com.br/
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